segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

"Capoeira é tudo que a boca come..."

Imagem retirada do blog Capoeira Sócio Cultural
No último mês de novembro ocorreu na cidade de Cachoeira, na Bahia, um congresso internacional de Capoeira. Segue abaixo um texto produzido pelo professor Petry Lordelo, comentando o encontro. O mesmo além de ser docente e coordenador do curso de licenciatura em educação física da FAMAM, docente do curso de educação física da UEFS e da rede estadual de enino, também é capoeirista e estudioso desta luta

Segue o texto logo abaixo. Aproveito para agradecer ao professor a gentileza em disponibilizar o mesmo para este blog.

Entre os dias 18 e 20 de novembro de 2013, aconteceu no campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, em Cachoeira, o I Congresso Internacional de Pesquisadores de Capoeira. Na ocasião, foi possível constatar muitos “Mestres” de/da Academia defenderem a espetacularização e mercadorização desta manifestação da cultura corporal.

Por exemplo, muitos chegaram a afirmar que "não há uma essência, uma verdade, uma tradição, uma história da capoeira. E sim, "várias"! Que nessa "roda" cabe tudo! Que a capoeira - a partir de uma interpretação pós-moderna da célebre frase/filosofia de Pastinha - "é tudo o que a boca come" e que das "bocas", sai! Que "capoeira não é luta, nem tampouco está inserida na luta de classes"; aliás, está última "não existe"! "Pastinha morreu à míngua, porque não soube "vender" - sem se “prostituir" - o seu produto". Até aula de capoeira EAD tá valendo, onde pra entrar na roda a gente abaixa no pé do computador...

Alguns, como eu, até tentaram entrar no debate, mas, assim como na maioria das rodas de hoje - diferentemente do que aprendi no Jogo de Angola - podaram a fala, ou se preferi, pra não fugir da mercado-lógica ritualística, "compraram o jogo"!

Imagem retirada do blog Capoeira Sócio Cultural
Como bem lembrou um camarada, quando vejo por aí dizerem que "tudo é tempo e tempo é tudo; tempo é tudo e tempo é nada", às vezes - já que não dá pra dar no couro - me limito a responder no coro: "Vixe, mainha!"

Esse papo de consenso, de ecletismo desvairado, de porralouquice teórico-prática comigo não rola! Ou se é malandro, ou se é mané! Ou oprimido, ou opressor! Ou revolucionário, ou reacionário! Não dá pra ser como aquele garoto da música de Frejat e Cazuza que tinha por "ideologia" mudar o mundo e agora, na convivência/conivência harmônica, passou a assistir a tudo "de cima do muro"; na hora que o bicho pegar, ele vai tomar pau dos dois lados!

O fato é que muitos não entendem que essa não é uma luta apenas da/pela Capoeira, mas sim, pela humanidade! Eu só me surpreendo como estes conseguem jogar tão bem olhando pro próprio umbigo.

É muita técnica...

3 comentários:

Elson disse...

Assino em baixo do texto do camarada Petry. E estou disposto a comprar este jogo/briga contra a expressão teórica atual do capital: a pós modernidade.

David Torres disse...

muito bom professor!!
já tentaram de várias maneiras destruir esta arte que fez parte da luta pela emancipação dos negros no Brasil. essa luta é nossa!

Paulo Henrique disse...

"Ou se é malandro, ou se é mané! Ou oprimido, ou opressor! Ou revolucionário, ou reacionário!"
Lendo esse texto hoje percebo o quão recheado de pós modernismo foi a disciplina que paguei sobre Capoeira.