segunda-feira, 5 de março de 2018

MULHERES NA HISTÓRIA DOS ESPORTES #1 ALICE MELLIAT


Durante este mês que marca o 8 de março como dia internacional das mulheres trabalhadoras, apresentarei uma série de textos com as importantes personalidades femininas que contribuíram para a introdução das mulheres na história do esporte moderno. Mulheres que enfrentaram um período conturbado, onde predominou uma construção do feminino baseada na fragilidade e submissão (que não está longe da contemporaneidade), excluindo-as da possibilidade de praticar modalidades ligadas à força. Nomes importantes, que lutaram dentro e fora dos ginásios e estádios pela visibilidade das mulheres nos espaços públicos.

Claro que as atividades esportivas reproduzem todas as características da sociedade capitalista: disparidade salarial, falta de políticas de permanência para as mulheres (entendendo que estas possuem jornadas tripla de trabalho), falta de representatividade nos setores de organização e direção do esporte, assédio moral e sexual, etc. Mas, já podemos visualizar alguns avanços: como a federação de futebol da Noruega, que irá igualar os salários das jogadoras, e Corinne Diacre, a primeira mulher a comandar um time de futebol masculino. Frutos das disputas políticas individuais ou de grupos feministas, contrariando alguns setores midiáticos que teimam em fortalecer a cisão esporte/política.

Um fato é inegável: o esporte em sua dimensão social, ainda é um lugar de predominância masculina. Temos muita luta pela frente.

Alice Melliat (1884-1957) foi um quadro relevante diante à exclusão das mulheres nas atividades esportivas. A francesa frequentava muitos estádios e acreditava que o esporte era uma excelente ferramenta de desenvolvimento da personalidade. Como praticante, foi a primeira mulher a obter um diploma concebido apenas a remadores de longa distância. Em 1917, fundou a FFSF (Federação de Sociedades Femininas da França) que passou a regular atividades esportivas das mulheres, num período em que existiu um forte mito de fragilidade, para justificar a proteção paternalista dos homens sobre as mulheres, expressada na proibição da participação destas nas olimpíadas modernas. Como já foi citado na introdução do nosso texto.

Por este motivo, em 1921 ela organizou a Olimpíada feminina, em Mônaco. O evento teve a participação de cinco países: Inglaterra, Suíça, Itália, Noruega e França. Ainda em 31 de outubro 1921, com apoio dos EUA, Tcheco Eslováquia, Itália e França, Organizou a Federação Internacional Desportiva Feminina (FSFI), e, no ano seguinte, 300 mulheres, de sete países, participavam da segunda Olimpíada Feminina.

Em 1938 a FSFI se dissolveu pois, as “crenças” que até então o Barão de Coubertin possuía sobre as mulheres (Fragilidade e submissão) iam caindo por terra, e, o mesmo, começou a introduzir cada vez mais provas femininas em seus jogos Olímpicos. O sucesso de público e a grande repercussão dos eventos que Alice ajudou a introduzir e a popularizar culminaram com o reconhecimento das mulheres como atletas olímpicas pelo COI em Berlim, 1936. Uma “capitalização” de todo o esforço da francesa
  
Por outro lado, a contribuição de Alice Melliat forneceu ao movimento feminista do período uma possibilidade de protestar sobre os papéis sociais das mulheres. Toda retórica embasada numa perspectiva biológica de que “a mulher tem útero e ovários, o homem não tem”, ou que justificasse sua “inferioridade natural”, poderia ser contestada, diante dos recordes e das excelentes participações femininas em modalidades antes, destinadas apenas aos homens. Sua luta deu um importante passo para a desconstrução de paradigmas que alicerçam a estrutura social vigente. Alertando até mulheres que não se consideravam feministas.   


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